Aécio durante comício no Rio: Bovespa teve uma série de altas motivada
por especulações de que o tucano poderia ganhar a eleição
Julia Leite, da Bloomberg
A Silvercrest Asset Management Group e O Wells Fargo Private Bank entendem que esses avanços “são como ouro de tolo”.
“Nós estamos olhando para além da eleição e analisando o que o Brasil precisa fazer para voltar aos eixos. E o país tem muito a fazer”, disse Patrick Chovanec, estrategista-chefe da Silvercrest, em entrevista por telefone em 20 de outubro, de Nova York.
Mesmo se Dilma não for eleita, “o novo presidente não terá uma varinha mágica para corrigir tudo”.
Os problemas pelos quais a economia brasileira está passando no momento, como crescimento perto de zero, inflação em alta e queda nos preços internacionais de commodities, entre outros, são graves; 2015 será um ano difícil para qualquer um que vencer, segundo Chovanec e Sean Lynch, do Wells Fargo.
Se por um lado uma vitória de Aécio provavelmente geraria ganhos adicionais, com operadores otimistas quanto à tomada de medidas para atrair investimentos, esses lucros podem não durar muito.
“A primeira coisa da qual sempre precisamos nos lembrar é que o Brasil é um país grande e tem muitos eleitorados”, disse Paulo Bilyk, diretor de investimentos em São Paulo da Rio Bravo Investimentos, que gerencia R$ 10 bilhões (US$ 4 bilhões) em ativos.
“O país geralmente se empolga com o que a vitória de um sobre o outro implica”.
Movimentos de mercado
O Ibovespa recuou 3,4 por cento ontem, atingindo o nível mais baixo desde junho, e o real registrou a maior queda dos mercados emergentes depois que uma pesquisa do Datafolha mostrou que Dilma teria 46 por cento dos votos no segundo turno, em 26 de outubro, contra 43 por cento de Aécio.
Trata-se de uma inversão nos ganhos registrados depois que Aécio conseguiu um surpreendente segundo lugar no primeiro turno, no dia 5 de outubro. O Ibovespa saltou 4,7 por cento no dia seguinte, com a Petrobras avançando 11 por cento, o maior rali desde 2008.
O índice subiu outros 4,8 por cento no dia 13 de outubro depois que uma pesquisa do Sensus mostrou Aécio, ex-governador do estado de Minas Gerais, com 52 por cento de apoio dos eleitores e Dilma com 37 por cento.
Esses números levaram alguns investidores a começarem a antecipar que uma administração de Aécio adotaria medidas no ano que vem para reduzir a inflação e estimular o crescimento em uma economia atolada em sua primeira recessão desde 2009.
Nomeação de Fraga
Aécio se comprometeu a nomear Armínio Fraga, O ex-banqueiro central que ajudou o Brasil a evitar um calote em 1999, como seu ministro da Fazenda se vencer a eleição.
Fraga disse em uma entrevista, no dia 6 de outubro, que reduziria os gastos para impulsionar o superávit primário do governo ao longo dos próximos dois ou três anos.
Até mesmo uma vitória de Dilma poderia dar certo para os investidores, segundo Bilyk, da Rio Bravo.
Embora o maior risco seja que Dilma continue aumentando os gastos, Bilyk disse que consegue imaginar um cenário em que o desempenho dela “não é nada especial, mas também não é um desastre”.
A Pacific Investment Management, que gerencia o maior fundo de bonds do mundo, reiterou ontem sua visão positiva a respeito dos bonds brasileiros, dizendo que espera que as políticas econômicas melhorem tanto em um governo de Dilma quanto em um de Aécio.
Com a aproximação do segundo turno, as oscilações do mercado aumentaram. A volatilidade do Ibovespa atingiu seu nível mais alto em dois anos nesta semana.
A diferença entre a volatilidade de 90 dias do Ibovespa e do MSCI Emerging Markets Index chegou ao nível mais amplo desde 1999, mostram dados compilados pela Bloomberg.