Uma piada de Sarney?
Por Abdon Marinho (advogado)
Circula no mundo cibernético, as vezes em
vídeo, as vezes em texto, a coleção de colocações inusitadas do
candidato Lobão Filho. Colocações com alto potencial corrosivo à sua
candidatura. Quem não lembra, por exemplo, quando disse que iria
implodir o presídio de Pedrinhas? Quando disse que começa o expediente
as nove da manhã? Quando disse que fica posando de homem honesto? Quando
sugeriu consultas por telefone? Quando sugeriu que a melhor solução
para segurança seria, ao invés de colocar quatro homens numa viatura,
colocar cada um em uma moto? A última que recebi nem considerei uma
piada em si, o candidato dizia que conhece o pai desde que nasceu.
Embora para muitos, esta tenha sido mais uma piada, levei em conta as
milhares de crianças que nascem todos os anos de pais desconhecidos. O
candidato dizer que conhece o pai desde que nasceu não é tão absurdo, a
considerar todas as outras coais ditas e chistes, como aquele a que
respondeu a uma pergunta, pertinente, de um jornalista, respondeu
dizendo que na casa do mesmo todo mundo era (o número do candidato),
pai, mãe, avós, cunhados e até os bichos de estimação, como cão, gato e
papagaio.
E se o candidato não se ajuda, sua equipe
de marketing e comando de campanha também não ajuda. Será que ninguém
se deu conta que daria margens a inúmeras interpretações, um candidato
chamado Lobão, com o retrospecto que possui, aparecer com aquela mão
enorme sobre o Maranhão? Resultado, virou aos olhos de muitos, o “homem
da mão grande”. Será que ninguém se deu conta da idiotice que era
colocar o candidato e seus aliados, inclusive pessoas importantes e
influentes, fazendo a saudação nazista, de triste memória? Não. Ninguém
sabia que estavam repetindo como autômatos os gestos da Segunda Grande
Guerra. Falei sobre isso em textos anteriores.
Ainda neste tema, outro dia vi uma outra
patetice que consistia em – acreditem –, tatuar (acredito que tatuagem
provisória) o número do cidadão no braço dos eleitores. Pelo que soube,
prefeitos, lideranças, deputados e até a governadora do Maranhão, andou
fazendo essa tolice.
A rigor, do ponto de vista prático, nada
teria demais. Acontece que a tatuagem no braço tem uma simbologia
nefasta. Os nazistas tatuavam uma numeração nos seus prisioneiros. Uma
marca que os sobreviventes do Campos de Concentração carregaram e
carregam até hoje a dolorosa lembrança. Nos antecedentes, trata-se, de
mais uma coincidência de triste memória. Uma candidatura que adota a
saudação nazista e que tatua o número nos eleitores. Me perdoem, mas é
muita falta de noção.
A falta de noção, aliás, se repete nas
coisas mais comezinhas. Outro dia, distribuíram uma foto do cidadão
saudando os eleitores maranhenses direto de uma praia… no Rio de
Janeiro. E ele nem estava lá, na verdade, estava num lugar bem mais
belo, aqui mesmo no Maranhão, o aprazível município de Santo Amaro. Por
que não mandaram a foto do candidato saudando os eleitores direto de
Santo Amaro? Seria uma ótica jogada de marketing.
Quem conhece um pouco de política,
estranhou que o grupo Sarney, depois de tantos anos no poder, não tenha
produzido uma liderança com mais consistência, com capacidade de
enfrentar qualquer debate com os adversários. O primeiro que
apresentaram, não tenho a menor dúvida, se sairia bem melhor. Teríamos,
ao menos, em termos de debate, um nível muito mais elevado.
Se analisarmos bem a história recente,
veremos que até meses antes da escolha, pessoas sérias não cogitavam o
nome do atual candidato, não apenas para governador, mas para cargo
algum. A maioria das pessoas já achou escandalosa a opção como suplente
do pai, quanto mais ser escolhido para titular do senado e menos ainda
para governador.
Apesar disso, logo que operaram a mudança
e chamaram o Sr. Lobão Filho para a disputa, um candidato improvável,
achei que era uma candidatura para valer, tinham o governo do estado,
uma governadora que ficaria no mandato até o fim, todos os senadores do
Maranhão e até um do Amapá apoiando, quase todos os deputados estaduais e
federais, quase todos os prefeitos, ex-prefeitos e lideranças
municipais, um ministro de Estado, o próprio pai do escolhido, a
presidente e o ex-presidente da República, ambos com grande aceitação.
Trata-se de muito apoio, nunca ninguém teve tanto. Tinham, sobretudo,
dinheiro, tanto de suas fortunas pessoais acumuladas ao longo dos anos,
quando da capacidade de arrecadar pela influência política.
Era, pesado tudo isso, uma candidatura de
respeito, muito poder concentrado. Apesar de tudo isso, até aqui, não
têm conseguido ir muito longe. Estão transformando um capital político
em pó. Não me digam que isso tudo o desejo de mudança do povo. Claro que
esse sentimento é o principal eleitor, entretanto, o que temos visto é
uma monumental incompetência política, de marketing, de organização.
A crônica política do Brasil levará anos
para explicar como uma candidatura com tanto apoio, com tantas condições
chegará ao final bem menor que o começou. Embora não conheça
pessoalmente o candidato, custo a acreditar que um senador da República
se revele tão despreparado. Sobretudo alguém que ostenta na biografia
dois cursos superiores e que está no senado da República há sete anos,
que foi secretário de Estado, por quatro e, tão bem nascido a ponto de
conhecer o pai desde que nasceu, nas suas própria palavras.
Registro que logo nas primeiras
presepadas escrevi um texto dizendo que a opção por ele, ao meu sentir,
se revelava mais emocional que técnica. Mas, como explicar que não
tenham encontrado ninguém melhor ou que arriscassem o futuro do grupo
numa escolha emocional? O candidato Lobão Filho parece não possuir
qualquer preparo para nada e, apesar dos cargos ocupados, não parece ter
aprendido muita coisa com eles. Arrisco dizer que é bem pior que Dilma
ou Roseana, conhecidas nacionalmente pelas tolices que dizem. A
presidente, inclusive, de tão famosa, chegou a criar um vocabulário
próprio: O dilmês. Roseana, todos conhecemos, dispensa apresentações.
A cada dia que passa, por tudo dito
acima, ninguém leva a sério o Sr. Lobão Filho. Daqui a pouco as pessoas
estarão dizendo nas ruas, nos bares e repartições: “Sabes a última do
Lobão Filho?”. Caminha para isso, para virar piada.
Outro dia o senador e ex-presidente
Sarney, um dos patronos da escolha, contou uma piada reciclada num
evento de campanha. Fico pensando, cá com meus botões, se não seria a
escolha, também uma piada do senador. Uma piada sem graça, diga-se de
passagem, porque priva os cidadãos maranhenses de um verdadeiro debate.