Doleiro Alberto Youssef decide fazer delação premiada, diz advogado
Folha de São Paulo
– O doleiro Alberto Youssef decidiu fazer a delação premiada no âmbito
da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. A informação é de Antônio
Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado do doleiro no Superior
Tribunal de Justiça. “É uma pena, temos uma tese jurídica que era
importante no STJ”, diz o criminalista.
Ele diz ter sido avisado que o doleiro
tomou a decisão por pressão familiar e porque vários outros decidiram
fazer a delação. O advogado deixará o caso.
“A família convenceu o Youssef a fazer a
delação. Por mais que eu tenha afirmado que nossa tese no STJ é forte”,
disse Kakay à Folha.
O advogado acreditava na hipótese de
anular todo o processo da Lava Jato, mas, segundo ele, a família do
doleiro ”cansou”. “Ele pediu para me avisar que não pode segurar a
família, pediu desculpas e disse saber que eu ia sair, como combinado
[se aceitasse fazer a delação]“.
Apontado pela PF como chefe do esquema
bilionário investigado na Operação Lava Jato, Alberto Youssef seria
responsável por lavar dinheiro e repassar os recursos desviados a
políticos. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa é envolvido no
mesmo esquema e já fechou um acordo de delação. Listou às autoridades ao
menos 25 deputados federais, seis senadores, três governadores, um
ministro de Estado.
O ministro Edison Lobão (Minas e Energia)
e os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foram citados por Costa.
Outro advogado de Youssef, Antonio
Augusto Figueiredo Basto, disse à Folha que a decisão de fazer a delação
não havia sido informada a ele pela família. As duas filhas e a mulher
do doleiro acreditam que não há defesa processual possível no caso e
pressionavam o advogado para fazer a colaboração.
Figueiredo Basto, que cuidou de uma
delação do doleiro em 2004, diz que deixará o caso com a decisão de
Youssef. “Discuto até as cláusulas do acordo, mas não posso ficar na
defesa porque sou contra o uso desse instituto desta vez. A delação vai
contra a minha tese de que seria possível fazer uma defesa processual do
caso”.
Na última semana, Basto e Kakay
ingressaram com um pedido de habeas corpus no STJ, (Superior Tribunal de
Justiça) no qual pedem a anulação de todas as provas da Operação Lava
Jato, por considera-las ilícitas, e o afastamento do juiz do caso.
Segundo eles, o juiz Sergio Moro,
responsável pela Operação Lava Jato, havia se declarado suspeito em 2010
para julgar uma questão relacionada a Youssef e a delação que fez em
2004. Com essa declaração, ainda de acordo com os advogados, o juiz não
poderia ter atuado na Lava Jato porque Youssef é o ponto central da
operação.
A Folha revelou em agosto que Youssef
enviara os primeiros sinais de que faria delação. Ele é réu em 12
processos e pode ser condenado a mais de cem anos de prisão.
PENA DE PRISÃO
Mesmo com o acordo da delação premiada, é
provável que o doleiro tenha que, além de entregar todos os seus bens
ilícitos, cumprir quatro anos de prisão em regime fechado e outros
quatro em regime aberto.
A exigência do cumprimento de uma pena
mínima é da força-tarefa do Ministério Público Federal que atua na
Operação Lava Jato. Sem o acordo, Youssef, 46, poderia ficar mais de 20
anos no regime fechado.
O rigor adicional que os procuradores têm
com Youssef deve-se ao fato do doleiro já ter descumprido o acordo de
delação que assinou em 2004, quando foi investigado por remessas ilegais
que fez usando o Banestado, banco do governo do Paraná.
Youssef se comprometeu a deixar o mercado paralelo de dólares, mas, em vez disso, aumentou ainda mais o volume de seus negócios.
Como desrespeitou a promessa, o processo
do Banestado foi reaberto em maio deste ano pelo juiz federal Sergio
Moro e Youssef foi condenado a quatro anos de prisão. A ação penal havia
sido instaurada em 2003 e os crimes de Youssef, perdoados em 2004.