Sarney, o maior cabo eleitoral de Marina
Por RUTH DE AQUINO (Época)
Não será o retrato do Brasil atual que
elegerá Dilma, Marina ou Aécio. Cada candidato extrairá da última
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) os números que melhor
sustentam seus discursos.
Não será o beijo de Chico Buarque na mão
de Dilma que a reelegerá. Não será o beijo de Gilberto Gil na testa de
Marina que elegerá aquela que passou fome na infância e se desgarrou do
PT. Não será o apaixonado apoio das socialites que elegerá o tucano
Aécio.
Não são os programas de governo que
decidirão tampouco, porque, até sexta-feira, nem Dilma nem Aécio haviam
tido a coragem de expor suas propostas. Não serão os evangélicos, os
católicos ou os ateus que elegerão o novo presidente. Não serão os gays.
Nem os héteros. Não serão as mulheres pró ou contra o direito ao
aborto. Não serão os ambientalistas ou os devastadores da floresta. Não
serão os banqueiros – esses então, nunca! Mesmo que seus lucros tenham
batido recordes nos 12 anos de PT, os banqueiros são os piores cabos
eleitorais neste Brasil hoje estagnado e com algumas bombas-relógio
armadas por Dilma.
Não serão, claro, os jornalistas que
elegerão o próximo presidente, num país que continua com 13 milhões de
analfabetos, além dos 30 milhões de analfabetos funcionais, com
dificuldade para interpretar um texto. O PT e os militantes totalitários
que acusam a imprensa de “fascismo” esquecem que Lula foi incensado
pelos mesmos jornais que estão aí hoje, ao ser eleito em 2002. Havia, na
imprensa, a rejeição da estratégia falaciosa do medo – a mesma que
Dilma usa hoje contra sua maior adversária, Marina.
Lula encarnava uma imensa esperança de o
Brasil se tornar mais ético, com uma “nova política”, ancorada na ética e
na honestidade. A palavra ética desapareceu para sempre dos programas e
das bandeiras do PT. É muito improvável que figure no programa de
Dilma. Cara de pau tem limite.
O eleitor, com fé e razão, esperava com o
PT um Brasil que investisse pesado em educação, saúde, transporte,
segurança e infraestrutura. Um Brasil cujo governo não escondesse
dólares na cueca, na bolsa, no banco do carro, na valise. Um Brasil em
que a roubalheira não se tornasse institucionalizada, e os desvios de
verba pública não se tornassem tão corriqueiros, enlameando até a
Petrobras.
Um Brasil que valorizasse a meritocracia,
em vez de criar uma casta de “sindicalistas aspones” milionários. Um
Brasil que não transformasse corruptos em conselheiros do Poder. Que não
criasse mais de 30 Ministérios e mais de 20 mil cargos comissionados na
administração direta. Esperávamos um Brasil que não trocasse projeto de
governo por projeto de poder, em que o fim justifica os meios.
Será que, como diz Dilma, se Marina for
eleita, “banqueiros” farão desaparecer a comida da mesa dos brasileiros?
Dilma apoiou a autonomia do Banco Central em 2010 e já percebeu que
exagerou ao transformar Marina na “exterminadora do futuro”. Onde está a
Comissão da Verdade?
Nesse vendaval de mentiras, só engolidas
pelos desinformados ou de má-fé, apareceu, nas hostes do governo, o
maior cabo eleitoral de Marina até agora: José Sarney. “Dona Marina, com
essa cara de santinha, mas (não tem) ninguém mais radical, mais
raivosa, mais com vontade de ódio do que ela. Quando ela fala em
diálogo, o que ela chama de diálogo é converter você.” Sarney estava em
São Luís, no palanque de Lobão Filho (PMDB), filho do ministro Edison
Lobão, candidato ao governo do Maranhão com seu apoio e de sua filha
Roseana.
Sarney foi chamado por Lula, em 1986, de
“grileiro do Maranhão” e, em 1987, de “o maior ladrão da Nova República”
– perto de Sarney, Maluf não passava de “um trombadinha”. Com Lula
eleito, viraram irmãos de sangue, prontos a duelar um pelo outro. Sarney
sobreviveu incólume a acusações de improbidade, em três mandatos do PT,
com a bênção e o beija-mão de Lula e Dilma. Tornou-se o coronel da Casa
Grande de Brasília, o “homem incomum”. Imagino como Marina comemorou a
declaração de Sarney.
Ninguém sabe direito a cara da nova
política, mas todo mundo conhece a cara da velha. O mínimo que se pede
ao novo presidente é honestidade. Dilma deve implorar a Collor que não a
defenda em público e não ataque Marina. É que pega mal. Já chega o
Sarney.
Fonte: jornal pequeno