O inferno astral por que passa a economia de Parauapebas chegou – quem diria – às exportações originárias do município. Dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior na manhã desta sexta-feira (10) apontam: os primeiros três meses de 2015 foram os piores da história de 26 anos da “Capital do Minério”, que trocará de idade a exatamente um mês.
O presente de grego que se tem, para o momento, é que a economia de Parauapebas está encolhendo. As exportações, cuja pauta é assentada nos minérios de ferro e manganês, caíram 50,81% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2014. Parauapebas já exportou em 2015 um total de 26,4 milhões de toneladas de commodities ao preço de 1,09 bilhão de dólares. Porém, ano passado, o município vendeu quase o mesmo volume (24,28 milhões de toneladas) pelo dobro do preço (2,22 bilhões de dólares).
O pivô da crise desencadeada em 2014 e que se agrava a cada novo dia de 2015 é o minério de ferro. De herói outrora a vilão atualmente, o ferro, que tem preço regulado pelo mercado internacional, vem perdendo valor gradativamente e chegou a 46,70 dólares a tonelada no porto de Quingdao, na China, no início desta semana e fechou nesta sexta em 47,30 dólares. Quingdao, a propósito, talvez seja um lugar fora da órbita do pensamento parauapebense, mas é incomensuravelmente importante para a vida da sociedade local, haja vista ser lá o espaço das negociações dos produtos cobiçados de Parauapebas e, por tabela, onde são ditadas as regras da economia do município paraense.
Após dois anos ocupando o topo das exportações no país, Parauapebas vai-se afastando caladinho e incólume, sem muito pouco poder fazer. Analistas de mercado da Europa e dos Estados Unidos preveem queda ainda maior no preço do minério de ferro, o qual, segundo alguns, pode até mesmo ficar a menos de 40 dólares a tonelada. As consequências disso seriam arrasadoras para gigantes como a Vale, que tem no minério de ferro de Carajás – cujo teor chega a 67% de hematita – seu grande trunfo. Consequentemente, a economia do município de Parauapebas, extremamente dependente, chegaria ao caos.
MUNICÍPIO PIFADO
Royalties atingem menor valor mensal desde 2010
As vacas, que em 2014 estavam magras nos ventos de Parauapebas, estão em estado de anorexia. A julgar pelo montante de royalties recebido pela prefeitura local, as tetas estão secando numa velocidade de encabular. Nos primeiros três meses deste ano, consta no portal do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) que o município recebeu R$ 49,3 milhões em cota-parte de Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem). Ocorre, porém, que o recebimento mensal não se dá como parece. É que, conforme a regra de recolhimento de Cfem, o município explora o minério num dado mês, mas a compensação contábil só ocorre no mês seguinte.
Assim, na contabilidade correta, Parauapebas recolheu apenas R$ 43,2 milhões, correspondentes à Cfem recebida em fevereiro (extração de minérios em janeiro), março (extração em fevereiro) e abril (extração em março). É o valor mais baixo de um trimestre desde 2010. Para se ter ideia de como a crise veio para abalar as estruturas, com a queda brusca no preço do minério vendido ao longo de março, a cota-parte da Cfem chegou a míseros R$ 10,5 milhões. É o menor valor recebido num mês desde agosto de 2010, a partir de quando a arrecadação disparou mensalmente chegando ao pico de R$ 47,7 milhões em novembro de 2012 – desconsiderando-se os meses em que a Vale pagou dívidas de royalties contestadas na justiça junto com as compensações habituais, como em fevereiro e março de 2013.
No mesmo período do ano passado, considerando o balanço do trimestre contábil, foram recolhidos R$ 84,5 milhões, praticamente o dobro.
PERSPECTIVAS
Não há sinais de melhora dessa febre. Pelo contrário, se os royalties fossem pagos com base nas exportações em dólar, o valor da Cfem a ser recebido de hoje a um mês, exatamente o aniversário de Parauapebas, seria o presente mais tacanho dos últimos tempos para um município que nunca antes houvera tomado a lição de viver com pouco.
Por sorte, a arrecadação baseia-se na lavra efetuada em moeda nacional. Mas isso não é lá muita vantagem também, tendo em vista que o real anda em franca desvalorização frente ao dólar.
De todo caso, o que acontece atualmente desacredita uma reportagem nacional veiculada há exatamente um ano pela Revista Exame, que se baseou em números caducos e encomendados a uma consultoria que, lançando mão de metodologia questionável, emplacou em pleno 2014 caótico que Parauapebas era um dos melhores municípios em desenvolvimento econômico naquele ano.
Não que Parauapebas desmereça o título. Contudo, a Exame simplesmente omitiu o fato de que a pesquisa encomendada se referia a números demográficos de 2010 e econômicos de 2011, uma realidade distante e que, tomando por norte os prognósticos feitos pela mineradora Vale, não deve se repetir nesta década – e talvez nunca mais, porque no médio prazo não se visualiza o preço do minério a 190 dólares a tonelada, como em 2011, e no longo prazo, no máximo em 2035, a última das minas de ferro de Parauapebas, N5, será fechada, conforme reafirmado pela mineradora em seu mais recente relatório de atividade anual, divulgado 20 dias atrás.
“REAGE, VALE!”
Após 2.100 demissões, movimento ganha força em MG
Os números de geração de emprego referentes ao mês de março ainda não foram divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, porém nem é preciso ter bola de cristal para saber que o mês foi o pior da história de Parauapebas, com retração no número de postos de trabalho, particularmente nos setores Comércio e Construção Civil, seguindo a tendência que persiste desde janeiro de 2013.
Parauapebas ainda não sentiu os efeitos avassaladores das demissões no setor mineral que seus companheiros de Minas Gerais, mas essa hipótese não está descartada para este ano, caso o preço do minério continue à deriva. É preciso reduzir custos, e a maior empregadora privada da região, a mineradora Vale, sabe perfeitamente como fazê-lo.
Em Minas Gerais, de acordo com a imprensa de lá, cerca de 2.100 trabalhadores que atuam nas operações de minério de ferro da Vale foram dispensados. De janeiro a março, 68 empregados próprios foram mandados à rua da amargura no município de Itabira, de acordo com o Sindicato Metabase de lá. Em Itabira, já está em ação até um movimento chamado “Reage, Vale! Reage, Itabira”, que foi às ruas protestar contra as demissões de trabalhadores do setor mineral. A manifestação é encabeçada pelo Sindicato Metabase de Itabira e Região, Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Câmara de Vereadores, Prefeitura de Itabira, associações de bairro, Diocese e representantes de igrejas evangélicas, entre outros. Com a queda na arrecadação por lá, os investimentos públicos tiveram de ser revisados.
O problema é que, diante de um cenário fraco e pouco promissor para os próximos dois anos, a mineradora Vale é obrigada pelas circunstâncias a demitir, embora não seja regra, e não há movimento que possa dar jeito. E como toda a vida econômica de Parauapebas é decidida no porto de Quingdao, resta fazer figa em prol da subida do preço nas negociações da commodity local e torcer por dias melhores, os quais, economicamente falando, só deverão ser mais suaves a partir de 2018, conforme especialistas internacionais em regulação de mercado.
O presente de grego que se tem, para o momento, é que a economia de Parauapebas está encolhendo. As exportações, cuja pauta é assentada nos minérios de ferro e manganês, caíram 50,81% no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2014. Parauapebas já exportou em 2015 um total de 26,4 milhões de toneladas de commodities ao preço de 1,09 bilhão de dólares. Porém, ano passado, o município vendeu quase o mesmo volume (24,28 milhões de toneladas) pelo dobro do preço (2,22 bilhões de dólares).
O pivô da crise desencadeada em 2014 e que se agrava a cada novo dia de 2015 é o minério de ferro. De herói outrora a vilão atualmente, o ferro, que tem preço regulado pelo mercado internacional, vem perdendo valor gradativamente e chegou a 46,70 dólares a tonelada no porto de Quingdao, na China, no início desta semana e fechou nesta sexta em 47,30 dólares. Quingdao, a propósito, talvez seja um lugar fora da órbita do pensamento parauapebense, mas é incomensuravelmente importante para a vida da sociedade local, haja vista ser lá o espaço das negociações dos produtos cobiçados de Parauapebas e, por tabela, onde são ditadas as regras da economia do município paraense.
Após dois anos ocupando o topo das exportações no país, Parauapebas vai-se afastando caladinho e incólume, sem muito pouco poder fazer. Analistas de mercado da Europa e dos Estados Unidos preveem queda ainda maior no preço do minério de ferro, o qual, segundo alguns, pode até mesmo ficar a menos de 40 dólares a tonelada. As consequências disso seriam arrasadoras para gigantes como a Vale, que tem no minério de ferro de Carajás – cujo teor chega a 67% de hematita – seu grande trunfo. Consequentemente, a economia do município de Parauapebas, extremamente dependente, chegaria ao caos.
MUNICÍPIO PIFADO
Royalties atingem menor valor mensal desde 2010
As vacas, que em 2014 estavam magras nos ventos de Parauapebas, estão em estado de anorexia. A julgar pelo montante de royalties recebido pela prefeitura local, as tetas estão secando numa velocidade de encabular. Nos primeiros três meses deste ano, consta no portal do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) que o município recebeu R$ 49,3 milhões em cota-parte de Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem). Ocorre, porém, que o recebimento mensal não se dá como parece. É que, conforme a regra de recolhimento de Cfem, o município explora o minério num dado mês, mas a compensação contábil só ocorre no mês seguinte.
Assim, na contabilidade correta, Parauapebas recolheu apenas R$ 43,2 milhões, correspondentes à Cfem recebida em fevereiro (extração de minérios em janeiro), março (extração em fevereiro) e abril (extração em março). É o valor mais baixo de um trimestre desde 2010. Para se ter ideia de como a crise veio para abalar as estruturas, com a queda brusca no preço do minério vendido ao longo de março, a cota-parte da Cfem chegou a míseros R$ 10,5 milhões. É o menor valor recebido num mês desde agosto de 2010, a partir de quando a arrecadação disparou mensalmente chegando ao pico de R$ 47,7 milhões em novembro de 2012 – desconsiderando-se os meses em que a Vale pagou dívidas de royalties contestadas na justiça junto com as compensações habituais, como em fevereiro e março de 2013.
No mesmo período do ano passado, considerando o balanço do trimestre contábil, foram recolhidos R$ 84,5 milhões, praticamente o dobro.
PERSPECTIVAS
Não há sinais de melhora dessa febre. Pelo contrário, se os royalties fossem pagos com base nas exportações em dólar, o valor da Cfem a ser recebido de hoje a um mês, exatamente o aniversário de Parauapebas, seria o presente mais tacanho dos últimos tempos para um município que nunca antes houvera tomado a lição de viver com pouco.
Por sorte, a arrecadação baseia-se na lavra efetuada em moeda nacional. Mas isso não é lá muita vantagem também, tendo em vista que o real anda em franca desvalorização frente ao dólar.
De todo caso, o que acontece atualmente desacredita uma reportagem nacional veiculada há exatamente um ano pela Revista Exame, que se baseou em números caducos e encomendados a uma consultoria que, lançando mão de metodologia questionável, emplacou em pleno 2014 caótico que Parauapebas era um dos melhores municípios em desenvolvimento econômico naquele ano.
Não que Parauapebas desmereça o título. Contudo, a Exame simplesmente omitiu o fato de que a pesquisa encomendada se referia a números demográficos de 2010 e econômicos de 2011, uma realidade distante e que, tomando por norte os prognósticos feitos pela mineradora Vale, não deve se repetir nesta década – e talvez nunca mais, porque no médio prazo não se visualiza o preço do minério a 190 dólares a tonelada, como em 2011, e no longo prazo, no máximo em 2035, a última das minas de ferro de Parauapebas, N5, será fechada, conforme reafirmado pela mineradora em seu mais recente relatório de atividade anual, divulgado 20 dias atrás.
“REAGE, VALE!”
Após 2.100 demissões, movimento ganha força em MG
Os números de geração de emprego referentes ao mês de março ainda não foram divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, porém nem é preciso ter bola de cristal para saber que o mês foi o pior da história de Parauapebas, com retração no número de postos de trabalho, particularmente nos setores Comércio e Construção Civil, seguindo a tendência que persiste desde janeiro de 2013.
Parauapebas ainda não sentiu os efeitos avassaladores das demissões no setor mineral que seus companheiros de Minas Gerais, mas essa hipótese não está descartada para este ano, caso o preço do minério continue à deriva. É preciso reduzir custos, e a maior empregadora privada da região, a mineradora Vale, sabe perfeitamente como fazê-lo.
Em Minas Gerais, de acordo com a imprensa de lá, cerca de 2.100 trabalhadores que atuam nas operações de minério de ferro da Vale foram dispensados. De janeiro a março, 68 empregados próprios foram mandados à rua da amargura no município de Itabira, de acordo com o Sindicato Metabase de lá. Em Itabira, já está em ação até um movimento chamado “Reage, Vale! Reage, Itabira”, que foi às ruas protestar contra as demissões de trabalhadores do setor mineral. A manifestação é encabeçada pelo Sindicato Metabase de Itabira e Região, Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Câmara de Vereadores, Prefeitura de Itabira, associações de bairro, Diocese e representantes de igrejas evangélicas, entre outros. Com a queda na arrecadação por lá, os investimentos públicos tiveram de ser revisados.
O problema é que, diante de um cenário fraco e pouco promissor para os próximos dois anos, a mineradora Vale é obrigada pelas circunstâncias a demitir, embora não seja regra, e não há movimento que possa dar jeito. E como toda a vida econômica de Parauapebas é decidida no porto de Quingdao, resta fazer figa em prol da subida do preço nas negociações da commodity local e torcer por dias melhores, os quais, economicamente falando, só deverão ser mais suaves a partir de 2018, conforme especialistas internacionais em regulação de mercado.