"Isso não está certo", disse Rodrigo Gularte, condenado à pena de morte por tráfico de drogas, segundo o padre que lhe ofereceu a última benção
A defesa de Gularte argumentava que ele apresentava transtornos mentais. A família do brasileiro apresentou laudos médicos para comprovar que Gularte sofria de esquizofrenia, mas a promotoria do país asiático sustentou que ele era saudável. Pela legislação da Indonésia, a doença mental pode livrar um criminoso da pena capital. O brasileiro chegou a ser examinado por médicos recomendados pela procuradoria-geral da Indonésia, mas os resultados da análise nunca vieram a público.
O destino de duas indonésias presas por tráfico no Brasil
Segundo Burrows, a filipina Mary Jane Veloso soube que não seria mais executada quando faltava uma hora para o fuzilamento. Ela teve a vida poupada porque a pessoa que a recrutou para transportar drogas se entregou às autoridades. Antes de tomar conhecimento do perdão, Mary Jane recebeu os filhos de 12 e 6 anos na cela. O padre relatou que o momento em que eles se despediram da mãe comoveu os guardas. "Todos começaram a chorar. O diretor da prisão e os procuradores estavam muito tristes com aquilo. Eles disseram que não concordavam com a pena de morte, mas que precisavam cumprir com as ordens de seus trabalhos". Em certo momento, Burrows disse que um dos guardas se virou para ele e perguntou se "éramos responsáveis pelo sofrimento daquela pobre mulher e de sua família".
Nesta quarta-feira, o procurador-geral indonésio, HM Prasetyo, disse que as execuções "foram melhores do que as anteriores, mais ordenadas e com um grau de perfeição maior". Ele disse que os corpos também foram tratados de forma mais "humana" se comparados aos prisioneiros fuzilados em janeiro. Entre eles estava o também brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, que, segundo Burrows, foi arrastado aos prantos de sua cela sem receber a extrema-unção.
Quase 1.000 brasileiros estão presos por tráfico de drogas em outros países
O presidente indonésio, Joko Widodo, intransigente quanto à aplicação da pena de morte por tráfico de drogas, ignora os apelos de clemência e as pressões diplomáticas internacionais para evitar as execuções. Widodo alega que o país enfrenta uma situação de emergência ante o problema das drogas e precisa de uma "terapia de choque". A pena capital por narcotráfico e mesmo pela posse de pequenas quantidades de droga também é aplicada em outros países do Sudeste Asiático, como Malásia, Vietnã, Tailândia e Cingapura.