Todas as palavras

“Nestes dias da cobertura da morte de Eduardo Campos, sem listar nomes, dá para ver quem são os hipócritas. São os falsos e dissimulados. São os que fingem a dor e dissimulam os ‘verdadeiros sentimentos’”, diz Dr. Rosinha
Tive de ir até o dicionário buscar a palavra mais adequada para o que desejava definir. Fiquei chocado com o que li e ouvi no dia 13, quarta passada e nos dias que se seguiram, nas TVs, rádios e internet.
Não sabia se a palavra mais adequada era hipocrisia, hipócrita, imbecil, dissimulado, oportunista, desesperado, fariseu ou meramente “sem vergonha”, como se diz no jargão popular.
Para não errar, mas preocupado em não me alongar na busca das palavras que definem o que melhor quero escrever, vou ao dicionário do Houaiss. Hipocrisia é a (1) “característica do que é hipócrita; falsidade, dissimulação; (2) ato ou efeito de fingir, de dissimular os verdadeiros sentimentos, intenções; fingimento, falsidade; (3) caráter daquilo que carece de sinceridade”.
Hipócrita é “aquele que demonstra uma coisa, quando sente ou pensa outra, que dissimula sua verdadeira personalidade e afeta, quase sempre por motivos interesseiros ou por medo de assumir sua verdadeira natureza, qualidades ou sentimentos que não possui; fingido, falso, simulado”.
Imbecil é o “que ou aquele que denota inteligência curta ou possui pouco juízo; idiota, tolo”.
Dissimulado é o (1) “que sofreu dissimulação; encoberto, disfarçado”; (2) ou “aquele que dissimula com frequência; fingido, hipócrita, falso”.
Fariseu é (1) “aquele que, por observar fielmente um dogma ou rito, se acredita dono da verdade e da perfeição, achando-se no direito de julgar e condenar a conduta de outrem a pretexto de dar ajuda; (2) ou aquele que ostenta piedade e virtude sem tê-las; (3) que ou quem é orgulhoso e hipócrita”.
Dia 13, para o nosso pesar, morreu em um acidente aéreo Eduardo Campos, candidato a presidente pelo PSB. Talvez a minha agressividade em buscar uma palavra adequada para adjetivar tudo que li e ouvi nesses últimos dias seja por ter convivido com ele nos últimos anos. Chegamos a ter um convívio cotidiano durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) CBF-NIKE. Fazíamos parte da comissão. Depois de eleito governador de Pernambuco, esparsamente nos encontrávamos. Como governador, o encontro mais longo que tive com Eduardo foi numa reunião na casa do deputado Odair Cunha (PT-MG) para organizar a campanha de Ana Arraes, mãe de Eduardo. Ana era candidata a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU). Juntos, vencemos essa eleição.
Este convívio me ensinou a respeitá-lo e a vê-lo não como mais um político, como alguém interessado em mera ascensão pessoal, mas sim como um ser humano interessado em criar um país melhor para uma vida melhor de seu povo. Caminhamos, PT e PSB, um trecho desse caminho, e juntos começamos a construção de um país melhor. Nos últimos tempos, ele entendeu por trilhar outras veredas e com outras companhias. Apesar de não concordar, respeitamos e entendemos essa sua vontade. Talvez por isso a morte prematura de Eduardo tenha me chocado e também me chocou o comportamento de muitos repórteres, jornalistas e comentaristas políticos.
Os destroços do avião estavam esparramados, os corpos sequer localizados e identificados e os fariseus, não no sentido religioso, já faziam especulações sobre quem o sucederia como candidatado e quem perderia mais com a candidatura de Marina Silva.
Pior que isso foi o número de pessoas, alguns com o título de doutor, que nas redes sociais escreveram barbaridades com acusações fáceis e canalhas sobre o acidente. Os imbecis buscavam e buscam na internet acusar a presidenta Dilma. Pior, alguns não respeitaram sequer o féretro e vaiaram a Dilma.
Nestes dias da cobertura da morte de Eduardo Campos, sem listar nomes, dá para ver quem são os hipócritas. São os falsos e dissimulados. São os que fingem a dor e dissimulam os “verdadeiros sentimentos”, aquele que carece de sinceridade. É “aquele que demonstra uma coisa, quando sente ou pensa outra, que dissimula sua verdadeira personalidade e afeta, quase sempre por motivos interesseiros ou por medo de assumir sua verdadeira natureza, qualidades ou sentimentos que não possui; fingido, falso, simulado”.
No fim das contas e dos fatos, todas as palavras servem para adjetivar muitos repórteres, jornalistas, comentaristas da política e “políticos”.